segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Andarilhos no sertão

Andarilhos do sertão,
agora sobre rodas.
Não aquelas que carregam
carroças, trouxas e gentes,
mas as outras que nelas
se equilibram sonhadores.
Passa boiada, passa chão
a fina chuva que caiu
fez brotar o verde claro
dos pequizeiros que derramam
flores e beleza na terra,
terra seca do sertão.
Na esquina, numa encruzilhada
uma casa abandonada.
Mesmo com o bobo medo
de gente já morrida,
adentramos na casa que
um dia já teve vida.
Que surpresa linda
ao entrar e ver a marca de
um quadro negro na parede;
era uma escola do sertão
no meio da estrada,
no meio do nada.
Na volta da andança,
o sol esticava seus raios,
a terra brilhava dourada.
Gente simples que passava
acenava encantada
pelos andarilhos com roupas
coloridas, em cima de
suas carroças urbanas,
que precisam de pernas
para alcançar os sonhos.
E na vida, de sonhar
é a unica coisa que nao se cansa.


segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Presente do Indicativo



Penso em você, é claro,
quando o frio bate
e a minha nuca, agora nua,
está longe das suas mãos,
que a aquecem e acendem
a paixão de ter você, enfim.

Penso no vazio que sinto
quando, por não me entender,
eu mesma o afasto e vejo
os lençóis desarrumados
marcando contornos do seu corpo,
que mora ali quando sou amorosa.

Penso nas cores que irradiam
da sua presença, nas flores
vermelhas dos meninos
de Liverpool, no verde da
samambaia, no furta-cor rítmico
cintilante, brilhante,
que exala da sua vocação
em tocar meu coração.

Penso em não soltar
as suas mãos que afagam
a minha dor, que se juntam
como se quisessem me dar
um pouco de ar para beber,
quando de noite o sono
tenta me golpear em alerta.

Penso na minha insistência
em permanecer imperfeita,
e no medo de, por estúpidas ilusões,
ter certeza do contrário e
acabar deixando escorrer,
esvair a única fonte do
verdadeiro amor que conheci
desde que a vida me deu você.



domingo, 7 de setembro de 2008

Meio Tom



As nuvens vão chegando
Abraçando as montanhas
A multidão caminhando
Cada qual com sua solidão

Pingos, frios, não se importam
Começam a cair fazendo os passos
Se apressarem entre os prédios
Arranha-montanhas e céus

O cinza descolore traços
Enquanto passos procuram marquises
A água cai, pesada vai
Molhando felizes e tristes

Mas em algum lugar da cidade
Ainda deve existir um jardim
Onde esteja chovendo na roseira...



Canção com Beto Lopes