terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Embriaguez






De tempo em tempo
caminhos se encontram e
nossas estradas se unem
ao sabor do vento

Quem gosta da estrada
não pára de andar,
hoje está aqui, amanhã
em qualquer lugar.

Afinal, o que permanece então?
Um cheiro encaracolado,
embriagando os sentidos,
entorpecendo o coração?

Já que na direção da vida
essa embriaguez tem perdão,
até a Lei Seca da sua ausência
fiquemos bêbados de amor, em vão.




segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Dialeto para uma saudade



Voce é o meu quentinho,
Braço forte me aconchega direitinho
Chega mais perto pra esquentar mais um pouquinho
meus pés que nao gostam de ficar longe dos seus, sozinhos

Toda manha me de um beijo
Mas se for cedo, meu amor, me deixe e saia de fininho
Bem humorada sou demais e posso ate sorrir de mansinho
também me encher de coisa boa pra te dar muito carinho

E nosso amor de tanta poesia terminar sempre em três pontinhos...

Imagem: autor deconhecido.

Pés de férias!


"Sujar os pés de areia pra depois lavar...na água.
Lavar os pés na água pra depois sujar...de areia."
Arnaldo Antunes



Ela estava descendo das nuvens aos poucos, porque é assim que se sente quando tira férias. Férias longas, dessas para esquecer senhas, números, muitos números – salvo as senhas do cartão, porque a parte não muito romântica da história é que tudo tem seu preço e geralmente é bem altinho.

Entrou no banho e mais uma vez pegou um arsenal para tentar limpar os pés que estavam encardidos. Encardidos de férias! Sujos de andar descalços. Sujos de pele nova misturada com pele velha da bolha que se formou na terceira noite de forró consecutivo. Pés de férias!

Tentou, tentou e nada adiantou. Os pés continuavam meio amarelados. E também tinha sujeira nos cantinhos dos dedos. Uma areinha danada que ficava escondida. Ela ficava tentando tirar a areia do cantinho. A cada tentativa entristecia um pouco e nao sabia por quê.

Saiu um grão! Vibrou, depois olhou o grãozinho de areia no pauzinho que estava usando para cutucar o pé. Suspirou. Ficou imaginando em que andanças, em quais areias seus pés se afundaram e carregaram em suas reentrâncias memórias de um tempo feliz. Um tempo feliz de férias. Deu vontade de deixar as sujeirinhas bem quietas lá no canto delas, como um culto ao andar com os pés descalços.

Isso! Um culto à olhar para o céu e saber se o dia seguinte será de sol ou de chuva. Se a maré vai encher ou vai vazar. Se o pescador vai pro mar ou vai ficar. Que fruta é a da estação. Um culto à vida simples. Às nossas origens. Esquecidas.

Ainda bem que ainda existem férias para a gente brincar de ser feliz um pouco. Porque ela, ao constatar que estava de volta a cidade, depois de mais alguns suspiros, teve a cruel constatação: precisava de um salão de beleza para que seu pé ficasse limpo e bonito de novo. E as mãos. E os cabelos. E o trabalho. E o mestrado. E a internet. E o celular. E as contas.

E tudo de novo.


Imagem: foto na beira na barra do rio Caraiva...