terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A Nina vai nascer



Aproxima-se o Natal. Foram poucas as oportunidades em que me imbuí desse clima espiritual que contamina quase todos os povos, especialmente aos Cristãos.


Afirmam alguns ser tempo de mudanças e de transformação. Tempo de renovação das esperanças, tempo de se doar, tempo de perdoar, tempo de confraternizar...


Que seja tudo isso, pois, afinal, são as aspirações de toda a humanidade!


Neste Natal, porém, aqueles sentimentos tão distantes de minhas recordações, parecem que se afloram novamente. O coração bate esperançoso e a mente pressente transformações, as mais auspiciosas, para um futuro recente. O sentimento de solidariedade se avoluma, transformo-o em realidade, sinto me feliz por isso. Já não tenho a quem perdoar, pois também esqueci todas as mágoas do passado.


A renovação da vida, enfim, torna-se realidade e agradeço.


Se tudo isso já não bastasse, tem o presente que vou receber, que belo presente! Trata-se da Nina, a filha da Flavinha que está para nascer.Ela traz em sua preciosa bagagem a harmonia da união entre seus próprios pais – e como dá gosto ver isso -, de sua legítima avó, Miriam, com o Vagner – avô emprestado – e de todos os entes queridos dessa família.


Parabéns e obrigado, Nina. Você é símbolo dessa maravilhosa transformação! Você é a nova luz, com matizes dos mais variados, que iluminará nossas vidas – de todos -, de hoje em diante!

Um beijo pra você, sua mãe e um forte abraço para seu pai, Bruno.


Gnerva Tulivar – 21 de dezembro de 2010.



Obs: presente que a mamãe ganhou de natal do seu vovô, pequeNina. Nada emprestado, muito amado, você vai ver...


Imagem: foto de Vartuli



sexta-feira, 23 de julho de 2010

Trezentos gramas e vinte centímetros de perfeição



Eu com a minha mania de querer ser menino, gostar das brincadeiras de menino, querer ficar perto de menino, acabei ganhando de presente uma menina.

Minha menina...

Ai que medo me aflige!

Não tenho muito o que dizer, assim bonito, assim poético, etc e tal. As vezes meus escritos nem são tão bons mesmo... Agora, mais do que nunca, nao estou nem aí para isso. Até porque acho que estou muito longe de conseguir chegar perto de qualquer palavra, frase ou oraçao que expresse uma pontinha do que foi e é saber que é ela...

Que angústia da repetição!

Que oportunidade de amar um amor tao infinito que possa curar a boneca-mãe dos seus medos bobos!

Minha filhinha, minha menina... seus chutinhos me ajudam a ter mais coragem para a missao de ser sua mãe e espero que sinta orgulho desse meu oficio, porque agora eu sei que tinha que ser você mesmo.

E explodo em lágrimas de alegria de saber que você esta vindo, minha pequeNina.


segunda-feira, 24 de maio de 2010

Vaso quebrado



Uma vez eu estava num bar, na companhia de dois músicos geniais, sessentões. Eles conversavam com um olhar de admiração mútua. De repente, constataram e concordaram entre si: “A vida é um sonho, quando a gente abre os olhos, ela já passou”. Nunca me esqueço dessa cena e dessas palavras. Naquele momento, era uma nostalgia que me parecia distante. Eu, diante deles, com mais metade da idade, não tinha me dado conta da verdade que ali se apresentou delicadamente.

Algum tempo depois, não muito, tantos foram os acontecimentos. Mudanças de casa, no trabalho. Novas amizades. Chegando filhos de amigos, velhos companheiros indo embora. Alguns casamentos, alguns rompimentos. Lágrimas de tristeza e de alegria. A vida seguindo o seu ciclo de altos e baixos. Esse ritmo sempre guiado pela minha essência; uma pessoa extremamente apaixonada. Intensa. Talvez por isso tantas lágrimas, tantas mudanças. Uma dose a mais de drama aqui, uma euforia exagerada ali.

A vida corre mesmo. A minha então… A essência fica, mas o vento que bate na cara, nas descidas bruscas dos baixos passa transformando. Algumas coisas mudam. Eu queria dizer que somos lapidados. Mas isso remete a um pedaço bruto que vai se tornando uma obra prima maravilhosa. Nem sempre é assim. Às vezes, coisas bonitas são perdidas. Como aquele vestido lindo que comprei e que ficou deslumbrante, mas que não foi usado no dia e, agora, já não serve mais. Pode até ser que sirva de novo um dia. Mas não vai mais causar aquela sensação de parecer ter sido feito para mim, para aquele dia. A gente vai mudando sim. E o que um dia não parecia ter grandes efeitos, de repente fica. O que machucava e sarava já não sara do mesmo jeito. Sabe quando a gente tira casquinha do machucado pra ficar livre da marca rápido, mas só o que faz é sangrar de novo e aumentar a marquinha? Feito um vaso quando quebra e a gente tenta colar. Pode até ficar inteiro. Mas sempre vai ser um vaso quebrado.

O tempo implacável, nessa roda viva e gigante, deixa de herança lembranças. Às boas, cabe o alento nas horas mais difíceis, quando as ruins insistem em criar uma carapaça em cima daquela chama do eu, essencialmente apaixonado e entregue. E quando o vestido não servir mais, ou quando aparecerem as linhas dos cacos colados? Cabe também às boas lembranças ajudar a mostrar que isso serve apenas para que haja menos tristeza em qualquer próximo acontecimento. Dos tantos que ainda serão. Até que, numa mesa de bar com um bom amigo como companhia, eu possa com muita saudade abrir os olhos, e constatar que a vida é mesmo um sonho.

Um belo de um sonho.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Todo-coração



Hoje me deu vontade de ver um dia lindo
De ver o dia
Tenho estado submersa num lugar onde a única luz está escondida dentro de mim
Um pequeno e crescente ser
Uma criaturinha com um coração que já bate acelerado
Pude ver e ouvir
Uma pulsação ansiosa para bombear sangue e vida
Ainda não sinto esse pequenino ser
Exceto por alguns caprichos do estômago
E dor na mais feminina parte do corpo que desponta para prover alimento
Mas o todo-coração serzinho, milimétrico meu fruto de puro amor, é grandioso
Pois é razão da minha vontade de emergir e respirar
Para todos os dias lindos que quero ver
Até a beleza dos dias só não ser maior do que a do rostinho do meu - já eterno - amor





segunda-feira, 26 de abril de 2010

Oração




Curvo diante a força
e dobro diante a luz

Oh, força poderosa
do universo, afastai de mim
os pés que perseguem
as palavras que ferem
os olhares que aniquilam
e os desejos que nos
maltratam de longe.

Oh, todo poderoso,
abre para seu humilde filho
a cena do bem e estrada do amor
com a vossa força e a vossa luz

Que assim seja.

Amém.


Oração da Umbanda, enviada pra mim pelo amigo querido Fel... Conforto e amor.



terça-feira, 20 de abril de 2010

Ironia do destino




Apenas um milímetro.
Se não tinha amor bastante, não importa.
Já não estou mais sozinha.




segunda-feira, 15 de março de 2010

Quem sabe?







"Quem poderá fazer

Aquele amor morrer

Se o amor é como um grão!

Morrenasce, trigo

Vivemorre, pão"

Gil


De tão leve e singelo, tudo vira grão.

É um gesto. Um pousar de mãos em qualquer parte do corpo que esteja perto. Ou os pés para garantir a presença que o sono as vezes leva para longe. É um olhar. Um para cada tipo de reconhecimento. O de saber ter agradado. O de saber ter chateado. O de saber gostar daquela música. O de não saber o que há. O de saber-se aprendiz do outro e de si mesmo. É um menu que surpreende cada vez menos. Cada dia menos necessário, para gostos cada vez mais conhecidos. É um carrinho de compras que muda de aparência. Sendo também integral, acumulando rosé's. É um pronome inventado. Para uso pessoal. Para não ser igual. Para ser único em vez de dois. Para ser singular. É uma paciência a mais. Para transformar a ausência de respostas em cumplicidade no silêncio. É não ter medo do silêncio. Então devagarinho e calmo, um sopro suave espalha e mistura tudo, semeando grão a grão. Talvez faça nascer, crescer, ou até mesmo desabrochar um grande amor.

Talvez...

imagem: autor desconhecido


quinta-feira, 4 de março de 2010

Pinot noir e lírios





Um psiquiatra australiano disse essa semana que sua pesquisa comprovou que pessoas felizes são egoístas. Que a tristeza faz com que as pessoas percebam mais o mundo exterior, logo as outras pessoas. Que os tristes ajudam mais. Fiquei pensando nisso, mas acho que eu não estava num bom dia. Porque achei que o ser humano é sempre tão egoísta, que se ele ajuda mais porque está triste é para se sentir um pouco melhor, com o fato de ver que sempre tem alguém pior. E resolvi que nada melhor do que a gente se ajudar primeiro. Dar uma mãozinha, sabe? O dia estava realmente difícil. São tantas mudanças e um território que não me pertence. E ainda tem os outros. Sim, existem outros e seus conflitos. Os altos. Os baixos. O desânimo deu uma invadida que a cama tem chamado cedo. Nove e meia, dez da noite. Pra acordar cansada. Já conheço esse filme. O elenco? Só uma pessoa atuando. Passeei pelas ruas, não vi ninguém. Como se tudo estivesse congelado, menos eu. Almocei sozinha. Comprei flores para mim. Passei num “café” charmoso. Adoro o aroma. Parei na loja de sempre, o sommelier reparou que eu estava diferente dos outros dias. Comentou. Não respondi. Cheguei em casa e coloquei as flores num vaso com água. Num gesto de carinho aos meus sentidos, dei aos meus ouvidos Jobim. Ao meu olfato o perfume dos lírios. A meu paladar a companhia do pinot noir. E ao meu coração a calma de saber tudo acaba no seu devido lugar. Desde que não falte água às flores.



Imagem: e urubu de Jobim...




sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Mas passa





De repente o cinza descolore o céu.
Descolore o mar
e apaga o riso e sorriso.

De repente a chuva cai fria.
Cai mansa
e as gotas caem no choro.

De repente é amor demais.
Inteiro demais
e vira apenas mais um soluço.


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Causa mortis







Passados alguns dias
o laudo revela:

ele morreu de beijo.



Imagem: A Um Passo da Eternidade, 1953, cena de amor entre Deborah Kerr e Burt Lancaster



terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Mineira na praia - mas não em férias - 2






Parece um pouco surreal. Ainda mais com aquela lua cheia que estava nascendo no mar. Tirei uma foto de dentro do táxi – o que me fez atrasar mais e por pouco não perdi o vôo.

Uma pequena quantidade de roupa. O suficiente para um fim de semana. Em BH. Que BH que nada. Em um casulo. Casulo de noite e de dia. Precisa mais nada não. O resto é o vento e o sol batendo no rosto quando raro desencasula. Mesmo assim, bem perto.

Descobri que duas rodas é bem melhor. Só não é mais que chão. Se bem que eu acho que vale todos os estratos, veículos e espaço. No chão, sobre rodas, no ar. Na cama, na rede, na sala de estar. O importante mesmo é estar lá, sideral...

Divaga, vaga, para e volta. O telefone que toca traz à tona o presente. Já me derreti de calor. Já andei apressada por causa do horário. Já tomei um cano de um carioca
exxxperto. Já tomei uma cerveja antes do almoço. Já comprei mais alguns CD’s dos Beatles para a coleção. Já encontrei a terapeuta que estou precisando; para ver se consigo guardar tudo isso dentro da cachola. E ainda tenho que lembrar de passar ali na praia para fazer a oferenda à Janaína. Porque, já que estou de volta, é melhor não descuidar.

Iemanjá, Odó Iyá. O dia é seu. O interesse em celebrar é todo meu, pra ver se a cor fica de casulo até borboleta.



imagem: aquela, de dentro do taxi

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Mineira na praia - mas não em férias - 1






Faz calor demais, mas o centro é muito lindo. Dia desses fui num happy hour na Rua do Ouvidor. Um beco com boteco. E cerveja original com tira-gosto. Até me senti em casa. Fui caminhando devagar e olhando para cima, vendo os prédios imponentes. Os modernos se misturam com os centenários e os palácios. Numa brecha apareceu um fio de sol e a silhueta das montanhas. Estou no Rio de Janeiro, saindo do trabalho.

O coração anda ocupado, mas o Carlos Drumond de Andrade já avisou que o amor quando pula o muro e sobe na árvore tem um destino daqueles. Enquanto finjo evitar esse destino, vou me ocupando com a praia há três quadras da minha casa e a caminhada diária até a estação do metrô. Vou trabalhar. Volto. Como um "japonês" por conta da empresa. Não está ruim não, né? E ainda por cima, estou dando sorte com os cariocas que têm fama de serem marrentos. Desde que cheguei tenho sido muito bem recebida em todos os lugares. Convite para teatro, cinema, um barzinho. Com nome na porta e direito a acompanhante. Vinho na casa de uma querida amiga. Camareiras que cuidam de mim como se eu fosse uma órfã. Arranjei um monte de mãe. A do bar da piscina que mesmo quando não quero leva alguma coisa para eu comer, além das bebidinhas para a minha geladeira. A supervisora da limpeza, de uma delicadeza ímpar, cuida da casa como se fosse dela e das minhas coisas com um preciosismo de dar gosto. A do café da manhã que mandou comprar manteiga só para mim. A da recepção que tem um belo de um sorrisão toda manhã. E os rapazes da segurança que abrem a porta e sorriem, consertam alguma coisa. Juro, se eu reclamar, podem me internar.

Ontem no metrô que vive superlotado, dei lugar a uma senhora. Ela ficou repetindo que não precisava, que seria apenas uma estação. Mentira, ela desceria em Botafogo, cerca de quatro estações à frente. Sentou-se e agradeceu com aquela carinha de vó – será que sou sentimental?. Logo apareceu outro lugar aonde me acomodei. Quando me esqueci da velinha e me concentrei na esperada chegada em casa, tomei um susto. Eu estava sentada perto da janela e a senhora ao descer, bateu no vidro e deu um sorriso lindo pra agradecer. Fiquei emocionada. Acho que sou mesmo sentimental...

Saudades?

Todas, mas tenho sido bem tratada por aqui. Que São Sebastião conserve. E que São Jorge me empreste suas roupas e armas para ser só feliz. Porque, já disseram, é melhor ser alegre que ser triste.

Amém.


domingo, 24 de janeiro de 2010

Verdade



Monossilábica ou
silenciosa.

Antes fosse
um grito, um surto
ou um soco.


sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Eurita 357





É assim. Um turbilhão. Não é possível que em nenhum momento da minha vida as coisas vão acontecer de forma mais serena, mais calma. Calma! Mal cheguei na casa de varanda pra serra. De rede vermelha de amar. Amar o amor e amar a vista. Que que tem se não é pro mar? Tem nada não. Tinha. O marido deitado nela fumando o cigarrinho, com cara de pensativo. Tinha o bonito, nos quarenta e sete do segundo tempo, que adora uma rede, pra eu aconchegar e ficar bem perto. E uma santa que fica vigiando tudo o que acontece ali. Quase não coube no espaço, mas ela quis caber e coube. E deve fechar os olhos às vezes pra não ver tamanha confusão de gente. Gente que entra, gente que sai. Gente que vai e vem. E fica. E tanta música esquisita. E música boa também. A santa deve ficar agoniada algumas vezes que sente que alguma tristeza paira no ar. Porque tristeza é uma coisa que não combina com aquele lugar. Vale até luzinhas de natal sem ser natal. Mesmo que todo mundo que entre fale, olhe, é natal. Que raiva. Nem entendem a instalação do marido. E ele nada de Guimarães Rosa. Até achou bonita a letra no azulejo, mas o Leminski agradou mais. Eu acho. Acho também que a cozinha é grande, ótima para cozinhar, mas só tem cerveja. E vinho. Vinho. E cerveja. A maior produção de latinhas das redondezas. Nunca vi. Dá até para abrir um negócio. Só os amigos sustentariam o empreendimento. Faltou cozinhar. O marido até fala que gosta de cozinhar. Eu também. Mas o negócio dele mesmo é o tal wii. E o meu, não sei. Sorte que o Bolão é do lado. Ui, às vezes o cheiro de bolonhesa causa até desespero. Faltou o cachorro também apesar da jabuticabeira e as outras meninas terem cumprido um papel importante. Claro que num bairro como aquele, plantas ajudam a compor o cenário. Ah, e o barbeiro velinho também. Pelo menos para o marido passar em frente e dizer que vai fazer a barba lá um dia. Um dia vai, mas antes é preciso ir ao Marilton’s, tomar uma...cerveja. Novidade. Além da vontade de variar o cardápio. Mudar de rochedão, pra caol. Mudança significativa. Pelo menos anda uns quarteirões pra queimar as calorias. Mentira. Vai de carro mesmo. Essa vida ainda vai nos matar... Mas não isso mesmo que nos faz viver? È marido...essa vida é bandida mesmo. Ela faz o que quer. Rouba da gente o que quer, devolve quando quer ou nem devolve. Dissolve. Agora a vista pro mar está até bonita. O cristo tem uns braços abertos assim, grandão, que é bom pra quem é carente assim, tipo eu. A música está em todo lugar e o medo dentro de mim. Estou enfrentando o medo mais uma vez. Sozinha. Mais uma vez sozinha, mas dessa vez acompanhada das melhores lembranças da casinha de varanda com rede vermelha com vista pra serra, um marido, um bonito, muitos amigos, uma santa, algumas plantas e muita saudade.


Imagem: um amanhecer na eurita 357