segunda-feira, 15 de março de 2010

Quem sabe?







"Quem poderá fazer

Aquele amor morrer

Se o amor é como um grão!

Morrenasce, trigo

Vivemorre, pão"

Gil


De tão leve e singelo, tudo vira grão.

É um gesto. Um pousar de mãos em qualquer parte do corpo que esteja perto. Ou os pés para garantir a presença que o sono as vezes leva para longe. É um olhar. Um para cada tipo de reconhecimento. O de saber ter agradado. O de saber ter chateado. O de saber gostar daquela música. O de não saber o que há. O de saber-se aprendiz do outro e de si mesmo. É um menu que surpreende cada vez menos. Cada dia menos necessário, para gostos cada vez mais conhecidos. É um carrinho de compras que muda de aparência. Sendo também integral, acumulando rosé's. É um pronome inventado. Para uso pessoal. Para não ser igual. Para ser único em vez de dois. Para ser singular. É uma paciência a mais. Para transformar a ausência de respostas em cumplicidade no silêncio. É não ter medo do silêncio. Então devagarinho e calmo, um sopro suave espalha e mistura tudo, semeando grão a grão. Talvez faça nascer, crescer, ou até mesmo desabrochar um grande amor.

Talvez...

imagem: autor desconhecido


quinta-feira, 4 de março de 2010

Pinot noir e lírios





Um psiquiatra australiano disse essa semana que sua pesquisa comprovou que pessoas felizes são egoístas. Que a tristeza faz com que as pessoas percebam mais o mundo exterior, logo as outras pessoas. Que os tristes ajudam mais. Fiquei pensando nisso, mas acho que eu não estava num bom dia. Porque achei que o ser humano é sempre tão egoísta, que se ele ajuda mais porque está triste é para se sentir um pouco melhor, com o fato de ver que sempre tem alguém pior. E resolvi que nada melhor do que a gente se ajudar primeiro. Dar uma mãozinha, sabe? O dia estava realmente difícil. São tantas mudanças e um território que não me pertence. E ainda tem os outros. Sim, existem outros e seus conflitos. Os altos. Os baixos. O desânimo deu uma invadida que a cama tem chamado cedo. Nove e meia, dez da noite. Pra acordar cansada. Já conheço esse filme. O elenco? Só uma pessoa atuando. Passeei pelas ruas, não vi ninguém. Como se tudo estivesse congelado, menos eu. Almocei sozinha. Comprei flores para mim. Passei num “café” charmoso. Adoro o aroma. Parei na loja de sempre, o sommelier reparou que eu estava diferente dos outros dias. Comentou. Não respondi. Cheguei em casa e coloquei as flores num vaso com água. Num gesto de carinho aos meus sentidos, dei aos meus ouvidos Jobim. Ao meu olfato o perfume dos lírios. A meu paladar a companhia do pinot noir. E ao meu coração a calma de saber tudo acaba no seu devido lugar. Desde que não falte água às flores.



Imagem: e urubu de Jobim...