sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Eurita 357





É assim. Um turbilhão. Não é possível que em nenhum momento da minha vida as coisas vão acontecer de forma mais serena, mais calma. Calma! Mal cheguei na casa de varanda pra serra. De rede vermelha de amar. Amar o amor e amar a vista. Que que tem se não é pro mar? Tem nada não. Tinha. O marido deitado nela fumando o cigarrinho, com cara de pensativo. Tinha o bonito, nos quarenta e sete do segundo tempo, que adora uma rede, pra eu aconchegar e ficar bem perto. E uma santa que fica vigiando tudo o que acontece ali. Quase não coube no espaço, mas ela quis caber e coube. E deve fechar os olhos às vezes pra não ver tamanha confusão de gente. Gente que entra, gente que sai. Gente que vai e vem. E fica. E tanta música esquisita. E música boa também. A santa deve ficar agoniada algumas vezes que sente que alguma tristeza paira no ar. Porque tristeza é uma coisa que não combina com aquele lugar. Vale até luzinhas de natal sem ser natal. Mesmo que todo mundo que entre fale, olhe, é natal. Que raiva. Nem entendem a instalação do marido. E ele nada de Guimarães Rosa. Até achou bonita a letra no azulejo, mas o Leminski agradou mais. Eu acho. Acho também que a cozinha é grande, ótima para cozinhar, mas só tem cerveja. E vinho. Vinho. E cerveja. A maior produção de latinhas das redondezas. Nunca vi. Dá até para abrir um negócio. Só os amigos sustentariam o empreendimento. Faltou cozinhar. O marido até fala que gosta de cozinhar. Eu também. Mas o negócio dele mesmo é o tal wii. E o meu, não sei. Sorte que o Bolão é do lado. Ui, às vezes o cheiro de bolonhesa causa até desespero. Faltou o cachorro também apesar da jabuticabeira e as outras meninas terem cumprido um papel importante. Claro que num bairro como aquele, plantas ajudam a compor o cenário. Ah, e o barbeiro velinho também. Pelo menos para o marido passar em frente e dizer que vai fazer a barba lá um dia. Um dia vai, mas antes é preciso ir ao Marilton’s, tomar uma...cerveja. Novidade. Além da vontade de variar o cardápio. Mudar de rochedão, pra caol. Mudança significativa. Pelo menos anda uns quarteirões pra queimar as calorias. Mentira. Vai de carro mesmo. Essa vida ainda vai nos matar... Mas não isso mesmo que nos faz viver? È marido...essa vida é bandida mesmo. Ela faz o que quer. Rouba da gente o que quer, devolve quando quer ou nem devolve. Dissolve. Agora a vista pro mar está até bonita. O cristo tem uns braços abertos assim, grandão, que é bom pra quem é carente assim, tipo eu. A música está em todo lugar e o medo dentro de mim. Estou enfrentando o medo mais uma vez. Sozinha. Mais uma vez sozinha, mas dessa vez acompanhada das melhores lembranças da casinha de varanda com rede vermelha com vista pra serra, um marido, um bonito, muitos amigos, uma santa, algumas plantas e muita saudade.


Imagem: um amanhecer na eurita 357

4 comentários:

Deoti disse...

LINDO!!!!!!!!!!

Joana disse...

meus olhos ficaram molhados, o coração esquentou e deu saudade desta menina tão intensa e inteira....
já faz falta
bjs
jojo

Anônimo disse...

Lindo!!! Saudades.... Vai ter uma casinha emocionante no Rio tbem!!! Bjs Quel

Clarice Rena disse...

Notícias de Eurita, 357

Iansã ainda reina
ao lado de Iansã, Futrica.
A serra ainda é mar de casa, gente e luz. Nos dias de jogo, brilha foguete como pisca-pisca.
Os dias passam com gosto de interior no meio da cidade.
A geladeira tem cerveja, vinho, vodka e vários legumes e iogurte.
A alegria alheia de quem passou por aqui ainda vibra nas paredes e dá pros meus sonhos cores alegres e tempos fortes.
No mais, a vida corre.

bjos de atual (na)moradora...