Não se esquece quem é dono de qual lado da cama, mas é até perdoável, já que a arte de dormir junto é para poucos dois em um que às vezes se encontram por aí.É claro que a linha imaginária funciona muito bem para definir as regiões climáticas do planeta, mas não é muito eficiente para impor limites ou definir a temperatura do coração.
Dormir junto é permitir que essas linhas sejam cruzadas, que a pulsação e a respiração sejam conhecidas e se algo muda, alguém vai querer saber o por quê. Aquele que mudou pode responder, ou simplesmente não dizer nada e esse silêncio pode ser confortante ou irritante, dependendo do número de voltas que o pensamento tiver dado nesse círculo de amor. Ou os pés também podem se procurar no fim da cama, como um jeito de apaziguar até mesmo o que já é somente ternura. Depois o sono vem para silenciar ainda mais a quietude, deixando só o assobio do vento embalando os sonhos.
O que importa se os pensamentos às vezes se afastam para outros suspiros? Importa muito, porque os cabelos cheirosos como o cacho de caju daquela árvore lá da praia, esteve tantas vezes enrolados nos meus dedos e grudados na pele suada de amor, que é difícil imaginar outras mãos a afagá-los. Mesmo imaginando, é possível apostar que em outros cantos, o cheiro não é o mesmo . Em cada olfato um registro, uma memória. Ganhará a memória que não se findar?
O cajueiro ainda estava florido. Ainda há frutos para dar. Contudo nem as grandes falésias foram capazes de guardar seus pensamentos num só lugar. Grande ilusão seria, os cajus nem maduros estão...Mas no meio do azul, dividido entre céu e mar e um punhado de sol refletido no seu rosto sorrindo ao me olhar, dava até para acreditar que ao cair da noite, você haveria de se entregar. Eu só tinha a espera para lhe dar.
A sua entrega e a minha espera continuaram estáticas, talvez por um cansaço, talvez por medo, talvez por uma saudade. Então, como a lua minguante que vimos nascer, pego a estrada e vou sumindo devagarinho e aos poucos você nem vai se lembrar que eu disse que viveria um grande amor, desses que nos fazem mudar o prumo, mudar de rumo, porque quando os golfinhos não apareceram, deram o sinal de que esse amor só viveu de vento em Pipa.
Imagem: Soltando pipa
Ricardo S. R. Costa
Um comentário:
LINDOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!
Amo-te, jovem escritora.
E o Djalma também.
Mas, quem sou eu para competir com o velho Djalma.
Beijos, alegrias e poesias,
Daniel Rubens Prado.
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