quinta-feira, 7 de abril de 2011

Novo parto




É tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, tanta coisa circulando em tantos canais virtuais e presenciais - cada vez mais virtuais, fato - que, por várias vezes, quis parar para escrever, mas desisti. Coisas bacanas sobre a minha gestação, da emoção do parto já com as primeiras quebras de conceitos e, depois, sobre a existência de um serzinho, que nasceu tão cheio de possibilidades e que vai se revelando, dia-a-dia.


Aí dá vontade escrever sempre. Quando vejo uma carinha diferente, quando vejo os primeiros tudo, o sorriso, aquele olhar, quando ela passa a reconhecer os mais próximos, a cara quando o pai chega do trabalhor barbarizando, quando começa a se comunicar, a balbuciar, formar as primeiras silabas, se divertir comigo, com aquilo, consigo mesmo. Tudo o que acontece dá vontade de contar.


Dá vontade de escrever sobre a explosão de amor e do pânico da finitude que, de repente, invadiu minha alma e tomou conta de todas as noites e todos os sonhos, porque o sono, já era. Clichê, verdade. Sono alerta e sonhos trazem à tona os medos que me cercam o dia inteiro pelo peso - tão leve! - da responsabilidade de cuidar desse serzinho, sorridentemente banguelo e desarmador, desacelerador, desmascarador. De tanta vontade de escrever sobre tanta coisa, foi ficando cada vez mais difícil e a sobrecarga de informações por aí me faz pensar, para quê? Tanta gente já escreveu sobre isso. Tanta gente escreve. É tanta coisa. Tanto item.


Mentira. É que a intensidade dos acontecimentos e a felicidade de ter a oportunidade de viver cada dia dessa vida singular com a pessoinha que está dormindo no quarto ao lado - uma coisa linda, no bercinho, luz apagada, até amanhã de manhã - e que, mesmo chorando de fome, abre um sorriso enorme - e ainda banguelo! - quando colocamos nossa cara na frente dela, claro, para depois voltar a chorar, tem sido muito maior que qualquer vontade de me expressar, ou me relacionar com o mundo, seja como for.


Para parar e escrever era preciso entender como estou agora que as coisas estão bem diferentes dentro de mim, como rever se importa para mim se vou conseguir um texto legal ou mais ou menos, se meu cabelo está bonito grande ou fica melhor curto, se minha pele melhorou ou se está demorando muito, se prefiro ser executiva de multinacional ou dona de casa, se sou mais ou menos bonita que x ou y, se tenho 300 amigos no facebook ou dois que fazem tudo por mim na minha vida real, se estou muito magra ou se devo ir correndo para academia, para depois postar minha foto de frente pro espelho e de costas para a única verdade que existe. No fim das contas, o destino de todo mundo é o mesmo; o fim.


E até hoje não tinha me dado vontade de escrever, até eu ter vontade de escrever o que já foi escrito muitas vezes. O tempo é curto, voa, a vida e uma só, e a gente pode escolher viver de aparências, de se gabar de ter coisas bonitas e caras, de conhecer lugares exóticos, de viver usando máscaras, se achando mais bonito ou mais legal ou mais descolado que o outro, ou pode escolher outra coisa. Tipo dizer sim, primeiro. E ser gentil, primeiro. Fazer companhia ao outro, dar o lugar, passar a vez, chegar em segundo, o que que tem? Pedir desculpas, pedir a mão, estender a mão, abrir mão. Mudar de idéia, pensar bem, voltar atrás. Relevar e perdoar. E escrever para os que vão ficar mais um tempo depois da gente, menos sobre a gente e mais sobre coisas alegres. Mesmo que sejam escritas porque estamos tristes naquele dia. Geralmente é assim, porque a felicidade é tão sublime e o tempo a engole tão rapidamente, que é melhor não perder tempo escrevendo. Melhor é degustá-la, feito comidinha de mãe... É isso. Não escrevi até então, porque hoje sou mãe.







Um comentário:

Kenia Bahr disse...

Bonito e sincero! Essa desaceleração, desarmação, está fazendo bem pra ti, já falei pessoalmente. Viva essa alegria!

beijo amando

Kenia